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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 139

Digo-lhe que se trata de uma superstição estúpida e, na maioria dos casos, completamente desmentida pelos factos, mas se se viver em contacto com esta gente, é difícil escapar à opinião prevalecente. Você não faz ideia do efeito que essas superstições exercem. O senhor falou com um homem lá no corredor, não é verdade? E ele mal conseguia pronunciar uma palavra ao responder-lhe. Não há dúvida de que há imensas razões para uma pessoa se sentir confundida naquele sitio, mas uma das razões pelas quais ele não conseguia falar foi o choque que apanhou ao olhar para os seus lábios. Ele disse mais tarde que viu nos seus lábios o sinal da sua própria sentença, a condenação.» «Nos meus lábios?», perguntou K, pegando num espelho de bolso e estudando-os. «Não consigo ver nada de extraordinário nos meus lábios. O senhor vê?» «Eu também não vejo», respondeu o homem, «absolutamente nada.» «Como estas pessoas são supersticiosas!», gritou K. «Não foi o que eu lhe disse?», perguntou o outro. «Então encontram-se eles assim uns com os outros com tanta frequência e trocam todas essas ideias?», perguntou K. «Eu, pessoalmente, nunca tive nada a ver com eles.» «Como norma, eles não contactam muito uns com os outros», disse o comerciante; «não é lá muito fácil, pois é muita gente. Além disso, têm poucos interesses em comum. Ocasionalmente, um grupo pensa que descobriu interesses comuns, mas em breve verifica que estava errado. Uma acção combinada contra o tribunal é impossível. Cada caso é julgado de acordo com os seus próprios méritos, o tribunal é muito consciencioso nesse julgamento e uma acção comum está fora de questão. Um indivíduo aqui e ali marca um ponto em segredo, mas ninguém vem a saber disso a não ser mais tarde, ninguém sabendo também como foi conseguido. Desta forma, não há realmente ligação entre as pessoas, passam umas pelas outras nos corredores, mas pouco conversam. As crendices são uma velha tradição e aumentam automaticamente.» «Olhei para todas as pessoas no corredor», observou K., «e pensei que aborrecido deveria ser para eles deambularem por ah» «Não é nada aborrecido», disse o comerciante, «a única coisa aborrecida é tentar agir independentemente. Como já lhe disse, tenho cinco advogados além deste. O senhor pode pensar, tal como eu pensei, que, em relação ao caso, podia lavar daí as minhas mãos. No entanto, seria uma atitude errada. Tenho, pelo contrário, de os vigiar mais ainda do que se tivesse apenas um advogado a tratar do assunto. Acha que me faço entender?» «Não», respondeu K., colocando a mão sobre a do homem para evitar que falasse tão depressa.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 139

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179