Por fim, abanou gravemente a cabeça, voltou-se para o advogado e disse: «Tem estado sossegado e laborioso.» Um velho comerciante, um homem de longas barbas, suplicando a uma rapariga que diga uma palavra a seu favor! Deixem-no ter as ideias que quiser, que aos olhos dos seus semelhantes não encontrará justificação para elas. K. não conseguia compreender como é que o advogado poderia alguma vez ter admitido que esta representação o poderia impressionar. Se o advogado não tivesse já conseguido indispô-lo, este espectáculo bastaria para acabar com a situação de uma vez para sempre. Era humilhante mesmo para um espectador. Desta forma, os métodos do advogado, aos quais K. felizmente não se tinha exposto por muito tempo, resumiam-se ao seguinte: o cliente, finalmente, alheava-se completamente do mundo e vivia apenas na esperança de, mourejando ao longo deste falso e difícil caminho, conseguir atingir o fim do seu processo. O cliente deixava de ser um cliente e transformava-se no cão do advogado. Se o advogado o mandasse rastejar para debaixo da cama como se fosse para um canil e ali ladrar, ele obedeceria àquela ordem com satisfação. K. presenciava tudo com um sentido crítico apurado, como se tivesse sido incumbido de examinar atentamente os procedimentos judiciais a fim de os relatar a uma entidade superior e os registar por escrito. «Que esteve ele a fazer durante todo o dia?», continuou o advogado. «Fechei-o no quarto da criada», respondeu Leni, «para evitar que ele me perturbasse no meu trabalho; de qualquer modo, é onde ele normalmente está. Eu espreitava-o de vez em quando através do ventilador, para ver o que ele estava a fazer. Ele esteve durante todo o tempo ajoelhado na cama a ler os papéis que o senhor doutor lhe entregou e que estavam dispostos no parapeito da janela. Isto causou-me uma boa impressão, pois a janela dá apenas para uma chaminé ventiladora e não deixa passar muita luz. Assim, a maneira como Block se dedicou à leitura mostrou a fidelidade com que ele cumpre o que lhe é ordenado.» «Fico satisfeito por saber isso», disse o advogado. «Mas teria ele percebido tudo o que leu?» Os lábios de Block estiveram durante todo aquele tempo a mover-se fervorosamente; estava sem dúvida a formular as respostas que desejava que Leni desse. «Bem, é Faro», volveu Leni, «disso é que eu não tenho a certeza. De qualquer maneira, posso afirmar que ele esteve concentrado na sua leitura. Não passou da primeira página durante todo o dia, tendo seguido as linhas com o dedo. De todas as vezes que olhava para ele, suspirava como se a leitura o obrigasse a fazer um grande esforço.
