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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 160

O gabinete do subgerente estava obviamente tão vazio como a horas mortas da noite; muito provavelmente, o contínuo tinha recebido também ordem para o chamar, mas sem resultado. Quando K. entrou na sala de visitas, os dois homens ergueram-se do fundo das suas poltronas. O director sorriu simpaticamente para K. e estava, sem dúvida, satisfeito por vê-lo, fazendo imediatamente as apresentações. O italiano apertou cordialmente a mão de K. e disse, a sorrir, que alguém era um madrugador. K. não conseguiu perceber a quem ele se referia, por esta frase não lhe ser muito familiar e, por isso, o seu sentido não se lhe tornar claro de repente. Respondeu com algumas frases fluentes que o italiano recebeu com outro sorriso, enquanto afagava nervosamente o seu bigode acinzentado. O bigode estava com certeza perfumado e uma pessoa sentia-se quase tentada a aproximar-se dele e a cheirá-lo. Quando todos se voltaram a sentar e se iniciou uma conversa preliminar, K. ficou muito desapontado ao descobrir que apenas percebia parte do que o italiano dizia. Conseguia percebê-lo quase completamente quando ele falava lenta e serenamente, mas isso raramente acontecia, pois as palavras brotavam-lhe em tropel e ele movia animadamente a cabeça como que divertido com a rapidez da conversa. Além disso, quando isto acontecia, utilizava sempre um dialecto que K. reconhecia não ser italiano, mas que o director não só entendia como até falava, o que não foi surpresa para K., dado que este italiano viera do Sul da Itália, onde o director havia passado vários anos. De qualquer modo, K. certificou-se de que tinha poucas probabilidades de se entender com o italiano, na medida em que o francês deste era difícil de seguir e não valia a pena estar a olhar para os seus lábios para lhe adivinhar as palavras, visto que o bigode era muito espesso e lhes encobria o movimento. K. começou a prever contrariedades e, de momento, desistiu de tentar seguir a conversa — enquanto o director estivesse presente, era um esforço desnecessário —, entregando-se a uma morosa observação de como o italiano se recostava confortavelmente, embora com leveza, na sua poltrona, esticando de vez em quando as pontos do seu casaco curto e erguendo uma vez os braços para, com o agitar das mãos, que pareciam soltas, explicar qualquer coisa que K. achou impossível de entender, embora estivesse inclinado para a frente, a fim de observar todos os gestos. Por último, como K, se sentara ali sem tomar parte na conversa, limitando-se a seguir mecanicamente com os olhos o vaivém do diálogo, começou a sentir que se apoderava novamente dele o mesmo cansaço e, para seu horror, apesar de felizmente dar por isso a tempo, deu por si a levantar-se distraidamente e a voltar-se para sair da sala.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 160

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179