O Processo - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 161 / 183

Após muito tempo, o italiano olhou para o relógio e pôs-se em pé. Depois de se despedir do director, chegou-se tanto para junto de K. que este se viu obrigado a afastar a sua poltrona para trás, a fim de se poder mover livremente. O director que, sem dúvida, notara nos olhos de K. o esforço desesperado que ele fazia para perceber o italiano, interveio tão inteligente e delicadamente que pareça estar simplesmente a dar uns conselhos, quando, na realidade, estava a dar a K. justamente o significado de todas as observações com as quais o italiano se punha a interrompê-lo. K. soube desta maneira que o italiano tinha uns assuntos a tratar logo a seguir, que, infelizmente, não dispunha de muito tempo, que não tencionava, por isso, ver tudo a correr e que preferia — apenas se K. concordasse, pois a decisão estaria inteiramente dependente dele — limitar-se a visitar a catedral, vendo-a toda em pormenor. Ele estava extremamente satisfeito por ter a oportunidade de o fazer na companhia de uma pessoa tão conhecedora de arte e tão amável — esta foi a maneira como ele se referiu a K., que tentava a todo o custo não ouvir o que ele dizia e apanhar o mais rapidamente possível as palavras do director — e pedia-lhe, caso fosse oportuno, para se encontrar ali com ele dentro de algumas horas, cerca das dez. Ele tinha esperança de poder chegar por volta dessa hora. K deu-lhe uma resposta adequada e o italiano apertou a mão ao director, em seguida a K., novamente ao director e, seguido dos dois, agora apenas meio voltado para eles, mas mantendo a torrente de palavras, dirigiu-se para a porta. K. ficou uns instantes com o director, que não parecia sentir-se muito bem nesse dia. Via-se na obrigação de pedir desculpa a K. e disse — estavam perto um do outro, num ambiente de intimidade — que primeiro tinha pensado acompanhar pessoalmente o italiano, mas que, ao voltar a pensar no assunto — não deu qualquer justificação —, tinha decidido que seria melhor ser K. a desempenhar essa incumbência. Para começar, se K. descobrisse que não conseguia entender o homem, não se devia deixar perturbar por isso, pois em breve começaria a apanhar o sentido do que ele dissesse, e, mesmo que esse sentido não se tornasse bastante claro, também não tinha grande importância, visto que o italiano não se preocupava com o facto de ser ou não compreendido. Além disso, achava que os conhecimentos de italiano que K. possuía eram surpreendentemente bons e ele ia decerto desempenhar bem a sua missão. Depois disto, K. despediu-se, indo direito ao seu gabinete.





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