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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 3

«Será melhor o senhor entregar-nos essas coisas a nós do que confiá-las ao depósito», disseram eles. «No depósito há imensos roubos e, além disso, depois de um certo tempo, vendem-nas, não lhes interessando que os casos estejam ou não resolvidos. E nunca se sabe o tempo que demorarão, especialmente agora. E claro que acabariam por o indemnizar, mas os preços que eles pagam são sempre miseráveis, visto que vendem os bens ao melhor subornador e não ao melhor arrematante e, de qualquer modo, é do conhecimento geral que o dinheiro vai desvalorizando bastante à medida que passa de mão em mão e de um ano para o outro.» K. mal prestou atenção a tal conselho. Pouco lhe importava que dispusesse das suas próprias coisas, mas o mais importante para si era a necessidade de saber claramente qual a sua situação. Com esta gente à sua volta, não conseguia sequer pensar. A barriga do segundo guarda — sim, porque não podiam ser senão guardas — encostava-se continuamente a ele, de um modo quase amigável; contudo, quando erguia os olhos, vislumbrava um rosto que de maneira alguma condizia com aquela figura corpulenta. Tinha um rosto seco, ossudo, com um grande nariz, torto, virado' para um lado, que parecia conversar com o outro guarda. Quem seriam estes homens? De que estariam a falar? Que autoridade representariam? K. vivia num pais com uma constituição legal, havia paz no mundo, todas as leis estavam em vigor. Quem se atreveria, pois, a prendê-lo na sua própria casa? Estava sempre disposto a aceitar os acontecimentos com toda a calma, a admitir o pior apenas quando este surgia, a não se preocupar com o amanhã, mesmo quando as perspectivas fossem assustadoras. Mas ocorreu-lhe que esta não seria a melhor politica a seguir. Naturalmente, tudo isto se resumia a uma brincadeira, uma brincadeira de mau gosto que os seus colegas do Banco teriam forjado por razões desconhecidas, talvez por se tratar do dia do seu trigésimo aniversário. Decerto que tudo isso era possível. Talvez fosse forçado a rir-se na cara destes homens e eles se rissem também. Talvez fossem apenas moços de fretes ali da esquina — tinham bem aspecto disso. Fitando pela primeira vez o homem chamado Franz, K. já tinha decidido, entretanto, não desprezar qualquer vantagem que pudesse alcançar sobre esta gente. Havia um ligeiro risco de mais tarde os seus amigos afirmarem que ele não tinha sentido de humor, mas recordava-se — embora não costumasse aprender com a experiência passada — de várias ocasiões, sem importância de maior, em que, contra todos os conselhos dos amigos, se comportara com manifesta indiferença e sem a mínima preocupação pelas possíveis consequências, que no fim lhe custaram bem caro.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 3

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179