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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 31

«O senhor já aqui devia estar há uma hora e cinco minutos», repetiu o homem num tom mais alto, lançando outra rápida olhadela a toda a sala. Imediatamente o murmúrio se tornou mais forte, levando algum tempo a desaparecer, ainda que o homem nada mais tivesse dito. A sala tornou-se então mais silenciosa do que à entrada de K. Somente as pessoas da galeria faziam ainda os seus comentarias. Tanto quanto se podia divisar no meio daquela obscuridade, de pó e de fumo, elas pareciam estar mais mal vestidas do que as pessoas de baixo. Algumas tinham trazido almofadas, que colocavam entre a cabeça e o tecto para não se magoarem.

K decidiu-se a observar mais do que a falar e, assim, não apresentou qualquer desculpa pelo seu atraso, respondendo simplesmente: «Se estou ou não atrasado, o que interessa é que agora estou aqui.» Seguiu-se de novo uma onda de aplausos vinda da ala direita da sala. Estas pessoas são fáceis Á conquistar, pensou K., perturbado apenas pelo silêncio da ala esquerda da sala, que ficava mesmo atrás de si e de onde apenas vinha um outro aplauso isolado. Pensou bem no que havia de dizer para conquistar toda a assistência, ou, se isso não fosse possível, conquistar pelo menos a maioria dela.

«Sim», disse o homem, «mas agora já não sou obrigado a ouvi-lo.» Uma vez mais o murmúrio cresceu, agora com grande impacto, e, tendo ele ordenado silêncio à audiência com um aceno de mão, continuou: «Todavia, abrirei uma excepção desta vez. Tal atraso, contudo, não deve repetir-se. E agora aproxime-se.» De um salto, alguém desceu do estrado para dar lugar a K, que subiu, tendo ficado comprimido contra a mesa. A multidão atrás dele era tão grande que só com muito custo não derrubou a mesa do Juiz de Instrução e mesmo até a pessoa dele.

O Juiz de Instrução, no entanto, não pareceu preocupado e, sentando-se muito confortavelmente na sua cadeira depois de algumas palavras mais com que terminou a conversa com o homem que estava atrás dele, pegou num pequeno bloco de apontamentos—o único objecto que estava em cima da mesa. Parecia um velho caderno de exercícios de escola, já com dobras nas folhas por ter sido tantas vezes manuseado. «Bem», começou o Juiz de Instrução, voltando as folhas e dirigindo-se a K. num tom de voz autoritário: «O senhor é pintor de casas'» «Não», respondeu K., «sou gerente de um grande Banco.»

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 31

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179