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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 34

Involuntariamente, K. levantou a voz. Alguém na assistência bateu palmas e gritou: «Bravo! Por que não? Bravo! E bravo outra vez!»

Alguns homens da primeira fila cofiavam as barbas, mas nenhum deles se virou perante esta interrupção. K. também não lhe atribuiu nenhuma importância, mas sentiu-se encorajado; já não achou necessários os aplausos de toda a assistência; contentar-se-ia com o facto de esta começar a pensar no assunto e então ganhar uma opinião aqui e ali, mas pela simples convicção.

«Não desejo brilhar como orador», afirmou K., «nem tal conseguiria ainda que quisesse. O Sr. Juiz de Instrução é sem dúvida melhor orador, pois esta qualidade faz parte da sua profissão. Tudo o que desejo é trazer a lume uma ofensa geral. Escutem-me, por favor. Há dez dias fui preso de uma maneira que considero ridícula, embora isso não interesse muito neste momento. Fui arrancado da cama antes de me poder levantar; talvez —isto é muito provável, tendo em consideração a declaração do Sr. Juiz de Instrução — tivessem recebido ordem de prender um tal pintor de casas que deve estar tão inocente como eu, com a diferença de que me apanharam a mim. O quarto ao lado do meu foi ocupado por dois grosseiros guardas. Se eu fosse um bandido perigoso, as precauções não teriam sido mais rigorosas. Estes guardas, além do mais, eram rufiões degenerados, que me ensurdeceram com o seu palavrório, tentando induzir-me a suborná-los, procurando tirar-me as roupas com pretextos desonestos e pedindo-me ostensivamente que lhes desse dinheiro a fim de me trazerem um pequeno-almoço, e isto depois de, mesmo nas minhas barbas, terem comido o que me era destinado. Isto, contudo, não acabou aqui. Fui levado para um terceiro quarto, para enfrentar o Inspector. Era o quarto de uma senhora que profundamente respeito e tive de ser um mero espectador enquanto o mesmo era profanado, sim, profanado, por minha causa, e não devido a qualquer falta da minha parte, com a presença dos ditos guardas e do dito Inspector. Não foi fácil para mim conservar a calma. Consegui, no entanto, mantê-la e perguntei ao Inspector — se ele aqui estivesse, poderia confirmá-lo — por que razão eu tinha sido preso. E que resposta pensais que me deu o Inspector, cuja imagem conservo ainda na memória, todo recostado na cadeira pertencente à senhora de que falei, como a personificação de uma grosseira arrogância? Meus senhores, nem se dignou responder-me, talvez realmente nada soubesse; tinha-me prendido e isso era o suficiente.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 34

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179