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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 36

A nevoenta atmosfera da sala tornava-se insuportável, impedindo que, efectivamente, as pessoas pudessem ver as outras na extremidade aposta. Devia ser especialmente insuportável para os espectadores da galeria, que eram forçados a perguntar aos membros da assistência, em voz baixa, entre receosas olhadelas ao Juiz de Instrução, o que se estava a passar. As respostas eram dadas furtivamente, pondo geralmente o informador a mão na boca para abafar o som das palavras.

«Estou quase no fim», anunciou K., batendo com o punho na mesa, visto não haver uma campainha. Com o barulho do impacte, as duas cabeças, a do Juiz de Instrução e a do seu conselheiro, afastaram-se uma da outra por momentos. <~Não me sinto ligado a este assunto e posso, por isso, julgá-lo com calma. Quanto a V. EX.ª Senhor Juiz de instrução, se toma este tribunal demasiado a sério, só terá vantagem em me ouvir. No entanto, peço-lhe que adie para outra altura os comentários que V. EX.ª tencione fazer ao que vou dizer, visto que tenho pouco tempo disponível e terei de partir o mais cedo possível.» Imediatamente se fez silêncio, tão forte era o domínio de K sobre a assistência. Esta não mais gritou confusamente, como no princípio, e nem mesmo aplaudiu. As pessoas estavam já convencidas ou quase a deixar-se convencer.

«Não se pode pôr em dúvida», disse K., num tom de voz mais suave, por se sentir alvo da excitada atenção da assistência; no meio daquele silêncio, ouviu-se um sumido murmúrio que era mais excitante do que os mais exuberantes aplausos, «não se pode pôr em dúvida que, por detrás de todos os processos deste tribunal, isto é, no meu caso, para além da minha prisão e do interrogatório de hoje, há uma grande organização que não só emprega guardas corruptos, inspectores idiotas e juízes de Instrução de quem o melhor que se pode dizer é que reconhecem as suas próprias limitações, como também tem à sua disposição uma hierarquia judicial de elevada, direi mesmo da mais elevada ordem, com uma indispensável e numerosa comitiva de criados, escriturários, polícias e outros auxiliares, talvez mesmo carrascos—não me colho de mencionar esta palavra. E o objectivo desta grande organização, sabeis qual é, meus senhores? Consiste em considerar culpadas pessoas inocentes, em mover contra elas processos sem significado, muitos deles inúteis, como é o meu próprio caso.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179