O Processo - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 51 / 183

Contudo, neste local não sabia sequer como responder a uma simples pergunta e fitou os outros como se fosse dever deles ajudá-lo e como se ninguém pudesse esperar dele uma resposta caso o auxílio que aguardava não chegasse. Então, o oficial de diligências aproximou-se e, com o fim de tranquilizar o homem e de o encorajar, disse: «Este senhor apenas perguntou de que está à espera. Vá, dê-lhe uma resposta.» O tom de voz familiar do oficial de diligências provocou o efeito desejado: «Estou à espera», começou o homem por dizer, mas não conseguiu ir mais para diante. Tinha efectivamente começado por decidir dar uma resposta exacta à pergunta que lhe tinha sido feita, mas já não sabia como continuar. Algumas das outras pessoas tinham-se aproximado e agora agrupavam-se à volta. O oficial de diligências ordenou-lhe então: «Todos daqui para fora. Deixem o corredor livre.» Afastaram-se um pouco, mas não até aos lugares que ocupavam. Entretanto, o homem recompôs-se e respondeu, esboçando um sorriso: «Há um mês entreguei aqui vários depoimentos ajuramentados relativos ao meu processo e estou à espera do resultado.» «Parece que o senhor se não tem poupado a incómodos», comentou K. «Sim», respondeu-lhe o homem, «trata-se do meu processo.» «Nem toda a gente pensa como 0 senhor», disse K. «Eu, por exemplo, também estou preso, mas, tão certo como eu estar aqui, não entreguei nenhum depoimento ajuramentado nem tentei fazer nada do género. Acha isso necessário?» «Não lhe posso garantir que seja», respondeu o homem, sentindo-se uma vez mais vacilante nas suas afirmações; com certeza que K. troçava dele e estava na disposição de repetir a sua primeira resposta do princípio ao fim com receio de cometer um novo erro, quando, vendo o olhar impaciente de K., respondeu simplesmente: «De qualquer modo, já meti os meus depoimentos.» «Parece que o senhor não acredita que eu esteja sob prisão'», disse-lhe K. «Oh, com certeza que acredito», respondeu o homem, afastando-se para o lado, sem, contudo, parecer convencido da sua própria resposta, mas sim apreensivo. «Então o senhor não acredita realmente no que lhe digo?», voltou K. a perguntar e, inconscientemente e irritado com a humildade do homem, agarrou-o por um braço, como se assim o forçasse a acreditar nele. Não queria magoá-lo e, além disso, agarrara-o bastante frouxamente, mas o homem gritou como se K. o tivesse agarrado com tenazes em brasa em vez de dois dedos. Aquele ridículo grito arrasou os nervos de K.; se o homem não acredita que ele está sob prisão tanto melhor; certamente que o tomou por um juiz. Como um gesto de despedida, agarrou o homem com força, empurrou-o até ao banco e seguiu depois o seu caminho. «A maioria destes acusados são muito sensíveis», afirmou o oficial de diligências.





Os capítulos deste livro