O Processo - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 52 / 183

Atrás deles quase todas as pessoas que estavam à espera se tinham juntado à volta do homem, que havia parado de gritar, indagando com curiosidade pormenores sobre o incidente. Entretanto, um guarda, reconhecido como tal principalmente por causa da sua espada, cuja bainha, devido à sua cor, parecia de alumínio, abeirou-se de K. Este olhou boquiaberto para a espada e estendeu a mão para avaliar de que era feita. O guarda, que tinha vindo por causa do ruído, perguntou o que tinha acontecido. O oficial de diligências tentou afastá-lo com algumas palavras, mas o guarda declarou que queria estudar pessoalmente o caso, despedindo-se e caminhando apressadamente, mas com passos curtos, provavelmente devido à gota.

K. não perdeu muito tempo a pensar nele nem nas pessoas que haviam ficado na sala de espera, especialmente porque, quando .u mais ou menos a meio do corredor, reparou que este formava ali um cotovelo virado para a direita, com uma abertura, mas sem porta. K. perguntou ao oficial de diligências se era aquele o caminho, ao que ele respondeu acenando com a cabeça, e então K. meteu por ele. Aborrecia-o o facto de ter de caminhar sempre um ou dois passas adiante do outro, o que, num lugar como aquele, lhe daria o aspecto de um prisioneiro sob escolta. Desta forma, parou varias vezes, esperando pelo oficial de diligências, mas o homem deixava-se ficar sempre para trás. Por fim, K disse-lhe, de modo a pôr termo a esta situação desconfortável: «Agora que já vi tudo, vou-me embora.» «O senhor ainda não viu tudo», respondeu-lhe o homem inocentemente. «Não tenho interesse em ver modo», retorquiu K., que nessa altura já se sentia realmente cansado. «Quero ir-me embora; como é que se chega até à porta de saída?» «Com certeza que o senhor não se sente já perdido, pois não?», perguntou o oficial de diligências, muito surpreendido. «Olhe, vá até àquela esquina e depois volte à direita, siga ao longo do corredor até à porta.» «Venha também comigo», pediu-lhe K. «Mostre-me o caminho, pois há aqui tantos corredores que nunca encontraria a salda.» «Mas há só uma salda», respondeu-lhe o oficial de diligências num tom de voz reprovados. Anão posso acompanhá-lo, visto que tenho de entregar a minha mensagem e já perdi muito tempo com tudo isto.» «Venha comigo», disse K. ainda mais severamente, como se tivesse apanhado o oficial de diligências a pregar uma mentira. «Não grite dessa maneira», segredou o homem, «há gabinetes aqui por todo o lado.» «Se o senhor não quer regressar sozinho, venha um bocadinho mais adiante comigo ou espere aqui até eu entregar a mensagem e depois terei muito prazer em o acompanhar no regresso.» «Não, não», respondeu K. «Não espero e o senhor tem de vir comigo agora.» K. não tinha olhado ainda à sua volta e só quando uma das muitas portas de madeira se abriu é que voltou a cabeça.





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