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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 78

Num dos cantos, onde a luz da vela ainda não chegara, um rosto com uma longa barba erguia-se de uma almofada. «Leni, quem é que está aí?», perguntou o advogado, que, encandeado pela luz da vela, não conseguia reconhecer as suas visitas. «É o teu velho amigo Albert», respondeu o tio de K. «Oh, Albert!», disse o advogado, mergulhando novamente na almofada a cabeça soerguida, como se com este visitante não houvesse necessidade de salvar as aparências. «Sentes-te realmente mal?», perguntou o tio de K., sentando-se na beirinha da cama. «Não creio. É com certeza um dos ataques de coração, que acabará por passar como os outros.» «É possível que seja», respondeu o advogado numa voz sumida, «mas este é pior do que qualquer outro, pois mal posso respirar, não consigo dormir e perco as minhas forças de dia para dia.» «Compreendo», volveu o tio de K, apertando firmemente com a enorme mão o seu panamá contra o joelho. «É uma má notícia. É estás a ser devidamente tratado? Isto aqui é tão sombrio, tão escuro. Já há muito que aqui estive pela última vez e nessa altura o quarto parecia mais alegre. E esta tua criadita também não parece lá muito esperta, ou então disfarça bem.» A rapariga encontrava-se ainda junto à porta de vela na mão; tanto quanto se podia adivinhar pelo brilho dos seus olhos, parecia estar a olhar mais para K. do que para o tio, mesmo enquanto este falava dela. K. estava recostado numa cadeira que havia puxado para perto dela. «Quando um homem se sente tão mal como eu me sinto neste momento», disse o advogado, «deve ter sossego. Não acho o quarto sombrio.» Depois de ter feito uma pausa, acrescentou: «E Leni olha muito bem por mim, ela é uma boa rapariga.» Isto, contudo, não convenceu o tio de K, que se sentia visivelmente preocupado por causa da rapariga e, se bem que nada tivesse respondido ao doente, seguiu-a com um olhar duro à medida que ela se dirigia para a cama, pousava a vela na mesinha-de-cabeceira, se inclinava para o paciente e lhe segredava qualquer coisa enquanto lhe arranjava as almofadas. O tio de K., quase se esquecendo de que se encontrava no quarto de um doente, levantou-se e começou a andar para trás e para diante por detrás da rapariga. K. não ficaria surpreendido se ele a agarrasse pelas saias e a arrastasse para longe da cama. O próprio K. olhava tudo com desinteresse e a doença do advogado não lhe era inteiramente desagradável; porque nem tinha conseguido opor-se ao crescente ardor que o tio pusera na defesa da sua causa, aceitava gratamente a situação, que atenuara aquele ardor sem qualquer interferência da sua parte.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 78

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179