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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 84

«Mas o meu estranho procedimento, Leni, é fácil de explicar. Primeiro tive de ouvir a tagarelice daqueles velhos e não podia simplesmente sair e deixa-los sem uma desculpa; segundo, não sou um rapazinho descarado, mas sim bastante tímido, para dizer a verdade, e a Leni não parecia realmente fácil de conquistar.» «Não é bem assim», disse Leni, passando o braço por cima do espaldar da arca e olhando para K. «Mas não gostou logo de mim e certamente ainda não gosta.» «Gostar é uma palavra fraca», disse K. de um modo evasivo. «Oh!», exclamou ela com um sorriso, de modo que a observação de K. e aquela pequena exclamação a deixaram com uma certa vantagem sobre ele. Assim, K. não disse mais nada por alguns momentos. Como se tinha habituado à escuridão do quarto, conseguia agora distinguir pormenores do mobiliário. Ficou especialmente impressionado com um grande quadro que estava pendurado à. direita da porta e inclinou-se para a frente para o ver melhor. Representava um homem com uma toga de juiz; estava sentado numa espécie de trono alto, cujos dourados sobressaiam bastante. O que era mais estranho era que o juiz não parecia estar sentado numa posição muito dignificante, pois apoiava o seu braço esquerdo no espaldar e no braço do trono, enquanto o seu braço direito não se apoiava em nada, excepto a mão, que agarrava o outro braço da cadeira; era como se de repente, num gesto violento e, provavelmente, de fúria, ele tivesse de saltar para fazer qualquer observação decisiva ou até para pronunciar uma sentença. Podia-se imaginar o réu de pé no primeiro dos degraus que conduziam à cadeira da justiça; os degraus de cima estavam cobertos com uma carpete amarelada. «Aquele talvez seja o meu juiz», disse K., apontando com um dedo para o retrato. «Eu conheço-o», volveu Leni, olhando também para o retrato. «Ele vem cá muitas vezes. Aquele retrato foi pintado quando ele era novo, mas não se parece absolutamente nada com ele, pois é um homem baixo, quase anão. No entanto, deixou-se retratar daquele tamanho porque é extraordinariamente vaidoso, como toda a gente aqui. Também eu sou uma vaidosa e estou muito aborrecida por ver que não gosta nada de mim.» A esta última afirmação, K, em resposta, limitou-se a enlaçá-la e a apertá-la contra si; ela encostou a cabeça ao ombro dele em silêncio. As últimas observações dela, no entanto, ele respondeu com esta pergunta: «Qual é a posição dele?» «É juiz de instrução», respondeu ela, agarrando a mão com a qual K. a enlaçara e começando a brincar com os seus dedos.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 84

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179