Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: Capítulo 6

Página 86

Era um instantâneo de Elsa tirado quando terminava uma rodopiante dança como as que ela frequentemente exibia no cabaré, a saia toda na ar em forma de leque, as mãos nas ancas firmes e de queixo levantado sorrindo por cima do ombro para alguém que não aparecia na fotografia «Ela está muito espartilhada», disse Leni, apontando para o sítio onde, em sua opinião, o espartilho mais se notava. «Não gosto dela, é grosseira e de sujeitada. Talvez seja terna e simpático para si, deduz-se isso pela fotografia. As raparigas grandes e fortes como ela são geralmente ternas e simpáticas. Mas seria ela capaz de se sacrificar por si?» «Não», respondeu K., «ela não é terna nem simpática e tão-pouco seria capaz de se sacrificar por mim. E até hoje nunca lhe pedi nem uma coisa nem outra. Efectivamente, também nunca examinei esta fotografia com tanta minúcia como você fez.» «Então quer dizer que ela não representa muito para si», disse Leni. «Não é, pois, a sua amante.» «Isso é que é», respondeu K. «Recuso-me a retirar o que disse.» «Bem, admitindo que ela é sua amante», continuou Leni, «o senhor, mesmo assim, não sentiria muito a sua falta se a perdesse ou a trocasse por outra pessoa qualquer, por mim, por exemplo?» «Certamente», respondeu K., sorrindo, «isso é concebível, mas ela tem uma grande vantagem sobre si, é que não sabe nada acerca do meu processo e, mesmo que soubesse, não se incomodaria nada com isso. Nunca tentaria tornar-se menos inflexível.» «Isso não é vantagem nenhuma», volveu Leni. «Se isso é toda a vantagem que ela tem sobre mim, então não perderei as minhas esperanças. Ela tem algum defeito físico?» «Algum defeito físico?», inquiriu K «Sim», respondeu Leni. «Pois eu tenho um pequenino. Olhe!» Levantou a mão direita e esticou os dois dedos médios, ligados por uma pele fina que chegava quase até à falange, tão curtos eram os dedos. Na escuridão, K não conseguiu distinguir imediatamente o que ela lhe queria mostrar, por isso, ela pegou-lhe na mão e fê-la passar pelos seus dedos. «Que capricho da natureza!», comentou K., acrescentando, ao acabar de examinar a mão toda: «Que linda patinha!» Leni olhou com uma espécie de orgulho, enquanto K., surpreendido, continuava a puxar os dois dedos, tentando separá-los, e a seguir os colocava lado a lado, até que, por fim, os beijou levemente e os largou. «Oh!», gritou ela imediatamente, «beijou-me!» Apressadamente, trepou por ele acima até ficar ajoelhada, com a boca entreaberta, no seu colo. K. olhou para ela quase confundido; agora, que estava tão chegada a ele, exalava um cheiro excitantemente picante como o da pimenta; ela agarrou-lhe na cabeça, inclinou-se sobre ele e mordeu-o, beijando-o ao mesmo tempo no pescoço e mesmo nos cabelos.

<< Página Anterior

pág. 86 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 86

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179