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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 97

Em tais arengas e semelhantes, o advogado de K. era inesgotável. Repetia-as todas as vezes que K. o visitava. Ia-se progredindo sempre, mas não se podia divulgar a natureza do progresso. O advogado estava sempre a trabalhar no primeiro requerimento, nunca mais chegava ao fim, o que na visita seguinte se transformava em vantagem, pois, facto que ninguém previra, os últimos dias tinham sido pouco propícios para a sua entrega. Se K, já exausto com os discursos do advogado — o que acontecia algumas vezes —, fazia notar que, mesmo tomando em consideração todas as dificuldades, o processo parecia seguir com muita lentidão, recebia como resposta que não andava com lentidão nenhuma, se bem que já pudessem ter ido muito mais além se K. tivesse consultado o advogado a tempo. Infelizmente, havia-se descuidado a fazê-lo e era provável que essa falta lhe trouxesse desvantagens que não eram só temporárias.

A única interrupção bem-vinda destas visitas era a presença de Leni, que arranjava as coisas de maneira a levar o chá ao advogado enquanto K. estava presente. Ficava em pé atrás da cadeira de K., aparentemente atenta, enquanto o advogado se inclinava com uma espécie de voracidade avara sobre a sua chávena, deitava o chá e o sorvia, permitindo ela que durante todo este tempo K., sub-repticiamente, lhe agarrasse a mão. Fazia-se um silêncio absoluto. O advogado sorvia o seu chá, K. apertava a mão de Leni e esta, por vezes, aventurava-se a afagar-lhe os cabelos. Caindo aqui estás?», perguntava então o advogado depois de ter acabado. «Queria levar a bandeja do chá», respondia ela, e apertavam pela última vez as mãos, enquanto o doutor limpava a boca para recomeçar com novas energias o seu discurso a K.

Pretenderia o advogado confortá-lo ou conduzi-lo ao desespero? K. não podia dizê-lo, mas em breve se apercebeu de que a sua defesa não estava em boas mãos. É claro que podia ser verdade tudo aquilo que o advogado dizia, se bem que as tentativas que ele fazia para aumentar a sua própria importância fossem bem claras, sendo bastante provável que nunca até agora tivesse tomado conta de um caso tão importante como ele supunha ser o de K. Contudo, aquele seu constante alarde das ligações pessoais que mantinha com os funcionários do tribunal tornava-se suspeito.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 97

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179