Conheci sábios que tinham Kant por profundo, receio que na corte prussiana tenham por profundo o senhor Treitschke. E quando por vezes louvei Stendhal como profundo psicólogo, aconteceu-me ter de soletrar-lhe o nome para professores universitários...
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E por que não hei-de ir até ao fim? Gosto de fazer tábua rasa. É meu título de orgulho passar por contemptor por excelência dos alemães. A minha desconfiança do carácter germânico exprimiu-se já aos vinte e seis anos (Terceira consideração intempestiva). Os alemães são-me insuportáveis. Quando pretendo imaginar uma espécie de homens absolutamente opostas a todos os meus instintos, é sempre um alemão que se apresenta ao meu espírito. A primeira coisa que eu pergunto quando perscruto a alma de um homem, é se ele possui sentimento de distância, se atende sempre à classe, ao grau e à hierarquia entre homem e homem, Se sabe distinguir: é assim que se é nobre. Em todos os outros casos entra-se sem apelo nem remissão na ampla e, ai l, na compreensiva classe da «população». Pois bem, os alemães são vulgares, ai! são compreensivos... Um homem rebaixa-se no trato com alemães, pois eles colocam os outros «ao seu mesmo nível».
Abstraindo das minhas relações com alguns artistas, principalmente com Ricardo Wagner, não tive uma única hora agradável de convívio com alemães... Admitamos que o espírito mais profundo de todos os séculos aparecesse entre os alemães; pois logo um qualquer salvador do capitólio suporia que a sua mesquinha alma lhe era, pelo menos, equivalente...
Nunca poderia suportar a proximidade desta gente, com a qual se está sempre em má vizinhança e que não tem dedos apurados para as mais subtis «nuances» - e ai de mim!, não sou «nuance» - raça sem espírito nos pés e que nem sequer sabe andar.