Freddy Malins declarou que certo chefe de tribo negra que cantava na segunda parte da pantomina
Gaiety, tinha uma das melhores vozes de tenor que ele escutara na sua vida.
- Já o ouviu? - perguntou ele a Mr. Bartell, através da mesa.
- Não - respondeu Mr. Bartell, negligentemente.
- Gostava de ouvir a sua opinião acerca desse cantor. Penso que tem uma voz estupenda...
- Freddy descobre sempre coisas boas - afirmou Mr. Browne, familiarmente, para as pessoas que ali estavam reunidas.
- E por que razão não há-dé ter boa voz! Só por ser preto?...
Ninguém respondeu àquela pergunta, e Mary Jane tornou a levar a conversa para a ópera. Um dos seus alunos oferecera-lhe um bilhete para a Mignon. Na verdade, tinha gostado, mas ficara a pensar na pobre Georgina Burns. Mr. Browne falou nas velhas companhias italianas que costumavam cantar em Dublin - Fietjeus, Ilma de Murzka, Campanini, o grande Trebelli, Ginglini, Ravelli e Aramburo. Nessa época é que valia a pena ouvir bel-canto em Dublin. Descreveu como as galerias estavam cheias, noites e noites a fio, e como, em certa ocasião, um tenor italiano tinha bisado cinco vezes determinada ária, e como os rapazes, cheios de entusiasmo, haviam desatrelado os cavalos dos carros das primas-donas, levando-as através das ruas, até aos seus hotéis... Por que motivo não cantam agora as grandes óperas Dinorah, Lucrécia Borgia? Porque não conseguiam arranjar vozes para as cantar, era o que era!...
- Bem - disse Mr. Bartell d' Arcy - eu presumo que há agora tão bons cantores como antigamente.
- Onde estão eles? - perguntou Mr. Browne com ar de desafio.
- Em Londres, Paris e Milão - disse Mr. Bartell acaloradamente. - Suponho que Caruso, por exemplo, é tão bom, senão melhor, do que qualquer desses que mencionou...
- Talvez - disse Mr. Browne. - Mas duvido...
- Oh!. .. Eu dava tudo para ouvir Caruso cantar! - disse Mary Jane.
- Para mim - disse a tia Kate, que tinha um osso na mão - só houve um tenor que me agradasse! Mas suponho que nenhum de vocês ouviu falar dele...
- Quem era, Miss Morkan? - perguntou amavelmente Mr. Bartell.
- Chamava-se Parkinson. Ouvi-o quando estava no apogeu, e penso que é a voz mais pura de tenor que conheço!...
- É estranho - disse Mr. Bartell. - Nunca ouvi falar nesse nome.
- Sim, sim, Miss Morkan, tem razão!... - respondeu Mr. Browne. - Lembro-me de ter ouvido falar no velho Parkinson, mas não é do meu tempo...