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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 102

- Um tenor inglês com voz pura, linda e doce - explicou a tia Kate com entusiasmo.

Gabriel acabara de comer, e o pudim foi transferido para a mesa grande. Então, começou novamente o barulho dos garfos e colheres. A mulher de Gabriel distribuía colheradas de pudim pelos pratos, e passava-os. Mary Jane deitava-lhes geleia de laranja ou de morango. O pudim, fora feito pela tia Julia e todos a felicitaram. Ela declarou que não estava bem torrado.

- Bem, Miss Morkan!... - exclamou Mr. Browne. - Espero estar suficientemente torrado por si, porque sou bastante escuro...

Todos os cavalheiros provaram o pudim, a fim de poderem felicitar a tia Kate, com excepção de Gabriel, que não comia doces. Preferiu aipo, e Freddy Malins também. Tinham-lhe dito que o aipo era muito bom para o sangue e como andava a tratar-se...

Mrs. Malins, que estivera calada até àquela altura, disse que o filho ia, dali a uma semana, para Mount Melleray, onde havia um ar tão puro e tão boa hospitalidade que os frades nem sequer pediam dinheiro aos convidados.

- Não me diga que uma pessoa apresenta-se lá, fica como se fosse num hotel e no fim vem-se embora sem pagar nada?... - perguntou Mr. Browne com incredulidade.

- A maior parte das pessoas faz uma doação ao Mosteiro quando parte - disse Mary Jane.

- Desejaria que existisse uma instituição desse género na minha religião - afirmou Mr. Browne.

Estava pasmado por ouvir dizer que os padres nunca falavam, levantavam-se às duas da manhã e dormiam em caixões. Perguntou porque faziam aquilo.

- São os hábitos da ordem - disse com firmeza a tia Kate.

- Sim, mas para quê?...

A tia Kate repetiu que eram hábitos, e que estava tudo dito. Mr. Browne, no entanto, parecia não ter percebido. Freddy Malins explicou-lhe o melhor que pôde que os frades estavam a pagar por todos aqueles que faziam pecados no mundo. A explicação não foi muito clara porque Mr. Browne fez um trejeito e disse:

- Gosto muito da ideia, mas uma cama macia e confortável não seria para eles melhor do que os caixões?...

- O caixão - disse Mary Jane - é para lhes lembrar o fim.

Como o assunto se tornara lúgubre, a mesa começou a silenciar, e Mr. Malins ouviu dizer ao seu vizinho, em voz muito baixa:

- São homens muito bons, os frades, e muito piedosos...

Agora serviam-se amêndoas e figos, maçãs, laranjas, chocolates e doces, e a tia Julia convidou todos a beberem porto ou xerez.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86