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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 115

Tentou continuar com o tom de fria interrogação, mas a sua voz, quando falou, soou humilde e indiferente:

- Suponho que estiveste apaixonada por esse Michael Furey, Gretta - disse.

- Gostava muito dele naquela altura - confessou Gretta.

A sua voz era velada e triste. Gabriel, vendo agora que era escusado tentar levá-la ao que ele pensara, acariciou-lhe uma das mãos e disse também tristemente:

- E porque morreu ele tão cedo, Gretta? Fraqueza?

- Penso que ele morreu por mim - respondeu.

Um vago terror se apoderou de Gabriel com semelhante resposta, como se naquela hora em que tanto queria triunfar um ente impalpável e vingativo viesse contra ele, lutando contra ele naquele vago mundo. Mas libertou -se dessa ideia com um esforço da razão, e continuou a acariciar a mão de Gretta. Não lhe perguntou mais nada, porque sentiu que ela falaria. A mão da mulher estava quente e húmida; não respondia à sua ternura, mas Gabriel continuava a acariciá-la, da mesma forma como acariciara a sua primeira carta, naquela manhã da Primavera...

- Foi no Inverno - disse Gretta - pelo princípio do Inverno, quando eu estava para deixar a minha avó e vir aqui para o convento... Ele encontrava-se doente nessa altura, no seu quarto, em Galway, e não podia sair. Escreveram para a sua família. Estava em declínio, diziam, ou qualquer coisa parecida... Nunca o soube ao certo...

Parou um momento e suspirou.

- Pobre rapaz! - lamentou. - Gostava muito de mim e era tão gentil!... Costumávamos sair juntos a passear, sabes, Gabriel?.. Como se faz na província... Ia estudar canto. Tinha uma linda voz, pobre Michael Furey!...

- E então? - perguntou Gabriel.

- E então... Quando chegou a altura de eu deixar Galway e vir para o convento, ele estava muito pior e não me deixaram vê-lo. Por isso escrevi-lhe uma carta, dizendo-lhe que vinha para Dublin e voltaria no Verão, e que esperava que ele estivesse então melhor.

Parou por um momento, para recompor a voz, e continuou:

- Depois, na noite anterior à minha partida, eu estava em casa da minha avó em Mun’s Island, a fazer as malas, quando ouvi o barulho de areia contra os vidros. A vidraça tinha tanta humidade que nada consegui ver. Por isso corri pelas escadas abaixo e saí. Deparei com o pobre rapaz no fundo do jardim, tremendo.

- E não lhe disseste para se ir embora? - perguntou Gabriel.

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Capa do livro Gente de Dublin
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86