Gente de Dublin - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 13 / 117

o seu talento. Em Gallaher havia sempre qualquer coisa que impressionava. Mesmo quando se via atrapalhado de dinheiro, mantinha, imperturbável, a sua cara atrevida.

O pequeno Chandler começou a caminhar com 'maior velocidade. Pela primeira vez na sua vida, sentia-se superior às pessoas com quem cruzava. Pela primeira vez, também, revoltou-se contra a falta de estética da Rua Capel. Não havia dúvida; quem quisesse vencer tinha de se ir embora. Em Dublin, nada se conseguia. Enquanto passava pela Ponte de Grattan, olhou para o rio e viu aquelas casas tão pobres. Semelhavam um bando de vagabundos amontoados nas margens, cobertos com os velhos andrajos poeirentos, pasmados com o espectáculo do poente e à espera da primeira aragem para se meterem de novo a caminho. Pensou se seria capaz de escrever um poema expressando a sua ideia. Talvez Gallaher o pudesse publicar em qualquer jornal londrino... Conseguiria escrever algo de original? Não tinha a certeza da ideia que iria desenvolver, mas sentiu que um «momento poético» o invadia. E andou corajosamente para a frente.

Cada passo o transportava para mais perto de Londres e o afastava cada vez mais da sua sóbria e pouco artística vida.





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