Poucos segundos depois ele abriu os olhos e olhou em redor, para o círculo de caras, e, percebendo, tentou levantar-se.
- Está bem agora? - perguntou o rapaz de fato de ciclista.
- Isto não é nada - disse o homem fazendo um esforço para se levantar.
Ajudaram-no a pôr-se de pé. O gerente disse qualquer coisa acerca de um hospital e alguns dos circunstantes deram conselhos. O chapéu de seda amolgado foi-lhe colocado na cabeça. O gerente perguntou:
- Onde é que vive?
O homem, sem responder, começou a puxar as pontas do seu bigode. Tomou o acidente como sendo sem importância. Aquilo não era nada, disse, «unicamente um pequeno acidente». Falava muito cerrado.
- Onde é que vive? - repetiu o gerente. Pediu para lhe arranjarem um trem.
Enquanto o caso estava a ser debatido, um outro homem alto e ágil, aloirado, veio de um canto do bar. Vendo o espectáculo, chamou:
- Olá, Tom! Que foi que aconteceu?
- Não foi nada - disse o primeiro.
Aquele que chegara, olhou para o deplorável estado do outro e, voltando-se para o agente, disse:
- Está bem, senhor. Eu o levarei a casa.
O polícia tocou no boné e respondeu:
-Está bem.
Mr. Power, agarrando o seu amigo pelo braço, perguntou:
- Não tens os ossos partidos? Podes andar?
O rapaz de fato de ciclista agarrou-lhe no outro braço, e a multidão dividiu-se.
- Como é que te meteste nesta embrulhada? - perguntou Mr. Power.
- O senhor caiu pelas escadas abaixo - disse o rapaz.
- Estou-lhe muito agradecido, senhor- disse o ferido.
- Não tem de quê.
- E temos uma coisinha a…?
- Agora não. Agora não.
Os três deixaram o bar. O gerente trouxe a polícia até à escada para inspeccionar o local onde se dera o incidente. Concordaram em que o senhor devia ter posto um pé em falso. Os fregueses voltaram para o balcão e um criado foi limpar o sangue do soalho.
Quando se acharam na Rua Grafton, Mr. Power assobiou para um trem. O ferido repetiu o melhor que pôde:
- Estou-lhe muito agradecido, senhor.
Espero tornar a vê-lo. O meu nome é Kernan.
O choque e a dor tinham-no praticamente tornado sóbrio.
- Não fale nisso - disse o rapaz. Apertaram-se as mãos. Mr. Kernan foi içado para o carro, e enquanto Mr. Power dava a direcção ao cocheiro, ele expressava a sua gratidão ao rapaz e dizia que lastimava não poderem tomar uma bebida juntos.