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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 55
Os quartos vazios, frios e tristes libertaram-me, e passei de uns para os outros, cantando. Da janela que dava para a frente, vi os meus companheiros brincando lá em baixo, na rua. Os seus gritos chegavam até mim, fracos e indistintos e, pousando a minha testa contra o vidro fresco, olhei para o edifício escuro onde ela vivia. Talvez permanecesse ali durante uma hora, nada mais vendo além da figura escurecida, apanhada pela minha imaginação, discretamente tocada pela claridade na curva do pescoço, na mão que se encostava às grades.

Quando voltei para baixo, encontrei Mrs. Mercer sentada perto do lume. Era uma mulher idosa, viúva de um usurário, que coleccionava estampilhas com qualquer fim piedoso. Tive que aguentar a conversa durante o chá. A refeição foi atrasada de uma hora e o meu tio sem aparecer. Mrs. Mercer levantou-se para se despedir: tinha pena de não poder esperar mais tempo, mas já passava das oito e não gostava de andar tarde pelas ruas, porque o ar da noite fazia-lhe mal. Depois, comecei a passear dum lado para o outro, de punhos cerra- dos. Minha tia disse-me:

- Parece-me que tens que ir outra vez ao bazar...

Às nove horas, a chave do meu tio rangeu na porta da rua. Ouvi-o falar consigo mesmo, e escutei o chiar do cabide quando recebeu o peso do sobretudo. No momento em que ele chegou a meio da refeição, pedi que me desse o dinheiro para ir ao bazar.

Ele esquecera-se.

- A estas horas, já as pessoas estão na cama, dormindo o primeiro sono - sentenciou.

Eu não sorri. Minha tia disse-lhe com energia:

- Dá-lhe o dinheiro e deixa-o ir, já o demoraste bastante...

Meu tio respondeu que tinha muita pena de se ter esquecido e que acreditava na velha frase: «Só o trabalho, sem brincadeira, faz de Jack um rapaz estúpido.» Perguntou-me onde é que eu ia. Depois de lho repetir já pela segunda vez, indagou se eu conhecia The Arab's Farewell to his Steed. Quando deixei a cozinha, ele preparava-se para recitar as primeiras linhas a minha tia.

Com um florim apertado numa das mãos, desci a Rua Buckingham, dirigindo- -me à estação. O aspecto das ruas atulhadas de compradores e brilhando com a iluminação, recordou-me o propósito da minha viagem.

Tomei lugar num compartimento de terceira classe, num comboio deserto. Depois de enorme demora, o comboio arrancou vagarosamente da estação. Serpenteou ao longo de casas arruinadas e da cintilação do rio.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86