Deixou de ir aos concertos, para não voltar a encontrá-la. O pai morreu; o sócio mais novo do banco retirou-se. Mas, como sempre, todas as manhãs ele ia de carro para a cidade, e todas as noites voltava a pé para casa, depois de haver jantado moderadamente na Rua Georges, e de ter lido o jornal à sobremesa.
Certa noite, quando a sua mão levava para a boca uma garfada de assado com couve, os olhos fixaram-se no título de uma notícia do jornal. Tornou a pousar a comida no prato e leu atentamente. A seguir, bebeu um copo de água, empurrou o prato para o lado, colocou o jornal sobre a mesa e leu novamente a notícia. A couve começou a depositar gordura fria no prato. A criada veio perguntar-lhe se o jantar não estava bem feito. Ele respondeu que sim e comeu algumas garfadas com dificuldade. Depois, pagou e saiu.
Caminhou naquele escurecer de Novembro, a sua bengala batendo cadenciadamente no chão, uma ponta do Mail a sair de uma algibeira do sobretudo. Numa rua mais solitária, que vai do Parksgate até Chapelizod, apressou o passo. A bengala bateu no chão de forma menos enfática e a respiração tornou-se-lhe apressada. Quando chegou a casa, foi logo para o quarto, e, tirando o jornal da algibeira, leu novamente a notícia. Não a leu alto, mas sim movendo os lábios, como fazem os padres. A notícia dizia assim:
MORTE DE UMA SENHORA EM SYDNEY PARADE
UM CASO DOLOROSO
«Hoje, na cidade de Dublin, no Hospital de Deputy Coroner e na ausência de Mr. Leverett, procedeu-se a investigações acerca do caso de Mrs. Emily Sinico, de quarenta e três anos de idade, que morreu ontem à noite na Estação de Sydney Parade. A evidência demonstra que a falecida senhora, enquanto procurava atravessar a linha, foi derrubada pela máquina do comboio de mercadorias de Kingstown, das dez horas, ficando com ferimentos na cabeça e do lado direito, que lhe causaram a morte.
«James Lennon, o maquinista, alega estar na Companhia há quinze anos. Pôs o comboio em movimento depois de ouvir o apito do chefe da estação, e um segundo ou dois mais tarde, estacou, porque ouviu gritos. O comboio ia devagar.
«P. Dunne, porteiro da estação, informou que, quando o comboio principiou a andar, observou uma mulher tentando atravessar a linha.