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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 81

Ia muitas vezes ao pequeno cottage que ela possuía nos subúrbios de Dublin, e aí passavam o serão juntos.

A companhia daquela mulher era como a de uma terra aquecida pelo sol. Muitas vezes deixavam que a escuridão os envolvesse, antes de acenderem o candeeiro. A escuridão, o isolamento em que se encontravam e a música que lhes vibrava nos ouvidos, unia-os. Essa união exaltava-o, deitava para longe a harmonia do seu carácter e emocionava a sua vida mental. Às vezes distraía-se, ouvindo o som da própria voz. Pensava que, aos olhos dela, tomaria uma estatura angelical, e enquanto a mulher com a sua natureza ardente, se lhe afeiçoava cada vez mais, ele escutava uma voz estranha e impessoal, que reconhecia como sua, insistindo na solidão incurável da alma. «Não nos podemos entregar», dizia a voz. «Pertencemos a nós mesmos.» Estes discursos terminaram certa noite em que Mrs. Sinico mostrara todos os sinais de uma excitação desusada: agarrou na mão de Mr. Duffy, apaixonadamente, e apertou-a contra a face.

Mr. Duffy ficou muito surpreendido.

A interpretação que ela dera aos seus sentimentos, desiludiu-o. Não a visitou durante uma semana; depois, escreveu-lhe, marcando um encontro. Como não queria que a última entrevista fosse perturbada pela influência das confissões, encontraram-se numa pequena confeitaria perto do Parksgate. Era no Outono, e estava frio, mas apesar da temperatura desagradável, andaram pelas ruas do parque durante três horas. Concordaram em acabar com aquelas relações. «Cada laço», dizia ele, «era mais um pedaço de tristeza.» Quando saíram do parque, caminharam em silêncio para o carro, mas, nessa ocasião, ela começou a tremer com tal violência que, temendo outro colapso, Mr. Duffy despediu-se e deixou-a rapidamente. Poucos dias mais tarde, recebeu um embrulho com os seus livros e as suas músicas.

Passaram quatro anos sobre isto. Mr. Duffy voltou à sua forma antiga de viver. O seu quarto continuava a mostrar a ordem que lhe norteava o espírito. Mais algumas músicas enchiam a prateleira e entre os seus livros viam-se mais dois volumes de Nietszche: Assim Falava Zaratustra e A Ciência Alegre. Escrevia raramente nas folhas de papel, que continuavam em cima da escrivaninha. Uma das frases escrita dois meses depois da sua última entrevista com Mrs. Sinico dizia: «O amor entre dois homens é impossível, porque não podem existir relações sexuais; entre um homem e uma mulher é também impossível, porque têm que existir relações sexuais.»

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 81

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86