Ria-se alto, de uma história que acabara de contar a Gabriel na escada e, ao mesmo tempo, vinha esfregando o olho esquerdo, com o punho fechado.
- Boa noite, Freddy - saudou a tia Julia.
Freddy Malins deu as boas-noites à família Morkan e, reparando em Mr. Browne, que estava a sorrir para ele, atravessou a sala em cima de umas pernas pouco seguras, e foi-lhe repetir a história que acabara de contar a Gabriel.
- Não está mal, pois não? - perguntou a tia Kate a Gabriel.
- Não, quase não se dá por isso...
- É um rapaz terrível!... Vem comigo
para a sala, Gabriel!...
Antes de deixar a sala, fez um sinal de aviso, com o dedo, a Mr. Browne, que baixou a cabeça, em resposta. Logo que ela saiu, este disse a Freddy Malins:
- Bem, Freddy, vou arranjar-te um bom copo de limonada!...
Freddy Malins, que estava no meio da sua história, recusou a oferta, impacientemente, mas Mr. Browne tendo-o conseguido distrair, procurando chamar-lhe a atenção para qualquer coisa que tinha no fato, meteu-lhe na mão o copo da limonada. A mão esquerda de Malins aceitou o copo mecanicamente, visto que a mão direita estava ocupada a arranjar o fato. Mr. Browne trouxe outro copo de uísque, enquanto Freddy explodia numa gargalhada, mesmo antes de chegar ao fim da história. Pousando o copo cheio na mesa, recomeçou a esfregar o olho esquerdo com o punho, repetindo palavras da última frase, consoante lhe permitia o ataque de riso.
Gabriel não conseguia ouvir com atenção a peça da Academia, cheia de dificuldades, que Mary Jane tocava para a sala repleta de gente. Gostava de música, mas aquele trecho não tinha melodia nenhuma, em sua opinião, e acreditava que os outros ouvintes também pensavam o mesmo, apesar de haverem insistido para que Mary Jane tocasse. Quatro rapazes que vinham da casa de jantar para a sala de música, quando ouviram o piano, voltaram para trás. As únicas pessoas que aparentavam seguir a música, eram Mary Jane, correndo com as suas mãos as teclas ou levantando-as durante as pausas, e a tia Kate, que se encontrava junto dela, a fim de voltar as páginas.
Os olhos de Gabriel percorreram o tecto que ostentava pesado candeeiro, e as paredes onde se via um quadro de Romeu e Julieta, na varanda, e outro representando dois príncipes mortos na Torre, trabalhado em lãs encarnadas, azuis e castanhas pela tia Julia, quando era rapariga. Provavelmente esse seria o trabalho que nessa altura ensinavam na escola.