Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: Capítulo 10

Página 93
Sua mãe fizera-lhe, para um aniversário, um colete de um tecido de cor púrpura, com pequenas cabeças de raposa aplicadas em cetim castanho e tendo em volta diversos botões. Era estranho que sua mãe não tivesse sido um talento musical, apesar da tia Kate lhe chamar a «portadora dos miolos» da família Morkan... Tanto ela como Julia sentiam sempre um certo orgulho na irmã, por causa da sua seriedade. A fotografia dela estava em cima do tremó. Segurava um livro aberto nos joelhos e mostrava qualquer imagem a Constantine, que se encontrava sentado a seus pés. Fora ela quem escolhera os nomes dos filhos, porque era muito sensível à dignidade da família. Graças à mãe, Constantine era agora cura em Balbriggan e Gabriel formara-se na Royal University. Uma sombra passou-lhe pela face, quando se lembrou da oposição que sua mãe fizera na altura do seu casamento. Algumas frases de que ela se servira, ainda lhe vinham à ideia; falara uma vez de Gretta como sendo provinciana, e isso não era verdade. E afinal fora Gretta quem a tratara, na última doença, em casa deles, em Monkstown.

Percebeu que Mary Jane devia estar quase no fim da peça, porque tocava de novo a melodia da abertura e, enquanto esperava, todo o ressentimento lhe morreu no coração. O trecho terminou com um. trilo de oitavas.

Aplaudiram muito Mary Jane e ela, corando e enrolando nervosamente as músicas, abandonou o aposento. Os quatro jovens que tinham saído da sala e que só haviam voltado quando o piano silenciara, aclamavam vigorosamente.

Depois, foram dançar os lanceiros. Gabriel achou-se ao lado de Miss Ivors. Era uma senhora faladora e de maneiras francas, com um rosto sardento e olhos castanhos proeminentes. No broche que estava preso na frente da sua gola, figurava uma divisa irlandesa.

Quando estavam nos seus lugares, ela disse, repentinamente:

- Tenho um assunto a discutir consigo!...

- Comigo?

A rapariga baixou a cabeça com gravidade. - O que é? -perguntou Gabriel, sorrindo daquele ar solene.

- Quem é G. C.? - indagou Miss Ivors. Gabriel corou e estava quase para levantar as sobrancelhas, como se não percebesse, quando ela disse explicitamente:

- Oh, alma inocente!... Descobri que você escrevia para o Daily Express!... Então não tem vergonha?..

- Por que razão hei-de ter vergonha? - perguntou Gabriel, franzindo os olhos e tentando sorrir.

<< Página Anterior

pág. 93 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 93

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86