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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 96

- Não foi discussão... Porquê?.. Ela disse-te?...

- Qualquer coisa parecida... Estou a ver se encontro Mr. D’ Arcy, para cantar. Parece-me que ele está cheio de vaidade...

- Não houve disputa - disse Gabriel.

- Somente ela queria que eu fizesse uma

viagem para o Oeste da Irlanda e eu disse que não queria ir!...

Sua mulher bateu as mãos com excitação e deu um pulinho.

- Ai, vamos Gabriel! - gritou ela. - Gostava tanto de tornar a ver Galway!...

- Podes ir tu, se quiseres - disse Gabriel friamente.

Ela olhou-o por um momento; depois virou-se para Mrs. Malins e disse:

- Aqui está um agradável marido para si, Mrs. Malins!...

Enquanto ela abria caminho para o outro lado da sala, Mrs. Malins, sem reparar na interrupção, continuou a contar a Gabriel como era bonita a Escócia com o seu admirável cenário. O genro levava-as todos os anos para os lagos e costumavam pescar. Era um esplêndido pescador. Uma vez tinha apanhado um enorme e lindo peixe e o homem do hotel cozinhara-o para o jantar.

Gabriel quase não a ouvia. Agora que a ceia estava a aproximar-se, começava a pensar outra vez no seu discurso. Quando viu que Freddy Malins se vinha chegando, a fim de ver a mãe, Gabriel deixou a cadeira livre para o amigo e retirou-se para o vão de uma janela. A sala já estava com pouca gente e do outro compartimento vinha o barulho de pratos e talheres. Aqueles que ainda ali permaneciam, já cansados de dançar, conversavam sossegadamente, em pequenos grupos. Os dedos quentes e trémulos de Gabriel batiam no vidro gelado. Que frio que devia estar lá fora!... Que agradável seria passear sozinho, primeiro ao pé do rio e depois através do parque. A neve devia cobrir os ramos das árvores e formar uma capa branca no monumento a Wellington. Quanto mais agradável estaria lá fora!...

Percorreu as principais fases do seu discurso: a hospitalidade irlandesa, memórias tristes, as Três Graças. Paris, o trecho de Browning. Repetiu, para si mesmo, uma frase que escrevera na sua crítica: «Uma pessoa pensa que está a ouvir uma música tormentosa.» Miss Ivors apreciara a crítica. Teria sido sincera? .. Existiria alguma vida interior por detrás daquela propaganda?..

Nunca houvera nenhum mal-entendido entre eles, até àquela noite. Enervava-o pensar que na mesa da ceia, Miss Ivors o fitaria com o seu ar irónico. Talvez ela gostasse de o ver falhar no discurso... Uma ideia veio ao seu pensamento, e deu-lhe coragem.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 96

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86