No patamar, Gabriel encontrou sua mulher e Mary Jane tentando persuadir Miss Ivors a ficar para a ceia; mas Miss Ivors, que já tinha posto o chapéu e estava abotoando o casaco, não queria ficar. Não sentia absolutamente nenhum apetite, e já eram horas.
- Mas são só mais dez minutos, Molly - disse Mrs. Conroy. - Isso nada a atrasa...
- Para tomar qualquer coisa, depois de tudo o que dançou - insistiu Mary Jane.
- Realmente, não posso!... - desculpou-se Miss Ivors.
- Receio que não se tenha divertido -
disse Mary Jane.
- Imensamente, posso-lhe assegurar - esclareceu Miss Ivors -, mas na verdade tem que me deixar ir agora...
- Mas como é que vai para casa? - perguntou Mrs. Conroy.
Gabriel hesitou um momento, e depois disse:
- Se me permite, Miss Ivors, eu a acompanharei; se realmente tem de ir.
Mas Miss Ivors fugiu-lhe, exclamando:
- Nem pensar nisso... Por amor de Deus vão para a vossa ceia e não se importem comigo!... Eu sou muito capaz de tomar conta de mim mesma...
- Bem, és uma rapariga cómica, Molly - sentenciou Mrs. Conroy.
- Beannacht libh - gritou Miss Ivors com uma gargalhada, enquanto descia a escada.
Mary Jane acompanhou-a com o olhar, mantendo uma expressão de admiração no rosto, enquanto Mrs. Conroy se debruçava no corrimão, para ouvir a porta fechar-se. Gabriel perguntou a si mesmo se seria ele o causador daquela partida rápida. Mas ela não parecia ter saído mal-humorada; ia a rir-se.
Naquela ocasião, a tia Kate apareceu ali com o andar vacilante, torcendo as mãos com desespero.
- Onde está Gabriel? - gritou ela. - Onde diabo se meteu? Estão todos à espera, e não há ninguém para trinchar o ganso!... - Estou aqui, tia Kate!... - gritou Gabriel com uma animação repentina. - Pronto para trinchar um bando de gansos, se for preciso…
Numa das extremidades da mesa estava um gordo ganso, na outra um grande presunto enfeitado com papéis plissados e perto um grande pedaço de carne assada.
Entre esses dois extremos rivais viam-se linhas paralelas de pratos: duas pequenas catedrais feitas de geleia encarnada e amarela; um prato baixo cheio de doce de fruta, um prato do feitio de uma folha, com uvas cor de púrpura e amêndoas, outro prato onde se viam figos secos, algumas taças cheias de chocolate e doces embrulhados em papéis prateados e coloridos. No centro da mesa estavam uma fruteira com uma pirâmide de laranjas e maçãs americanas e duas garrafas antiquadas, uma contendo vinho do Porto e a outra vinho de Xerez.