O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 10 / 335

O vento arrojou das árvores algumas flores e os lilases baloiçavam-se no ar lânguido. Uma cigarra começou a zunir junto da parede, e, como um fio azul, uma esguia libelinha passou, agitando as asas hialinas. Lord Henry tinha a sensação de ouvir as palpitações do coração de Basil Hallward, e a si mesmo perguntava o que iria suceder.

- A história é simplesmente isto - disse o pintor, passado algum tempo. - Há meses fui a casa de Lady Brandon. Sabe que nós, pobres artistas, temos de nos mostrar de vez em quando na sociedade, apenas para lembrarmos ao público que não somos selvagens. Com uma casaca e um laço branco, disse-me você um dia, qualquer, até um corretor da Bolsa, pode adquirir reputação de civilizado. Muito bem: depois de ter estado na sala uns dez minutos conversando, tive de repente a sensação de que alguém me estava fitando. Voltei-me e vi Dorian Gray pela primeira vez. Quando os nossos olhos se encontraram, senti-me empalidecer. Empolgou-me uma curiosa sensação de terror. Eu sabia que se me deparara alguém cuja mera personalidade me fascinava a tal ponto que, se eu o permitisse, absorveria toda a minha natureza, toda a minha alma, a minha própria arte.





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