- Não me pude livrar dela. Levou-me à presença de Realezas e pessoas com Estrelas e Jarreteiras e senhoras de idade com gigantescas tiaras e narizes de papagaio. Apresentou-me como o seu amigo mais querido. Nós só nos havíamos encontrado uma vez, mas meteu-se-lhe na cabeça expor-me como um animal raro à admiração de toda aquela gente. Creio que um quadro meu havia nessa ocasião obtido certo êxito, pelo menos havia sido muito criticado nos jornais, o que é o processo de imortalidade do século XIX. De resto, achei-me cara a cara com o jovem, cuja personalidade tão singularmente me perturbara. Estávamos muito juntos um do outro, quase nos tocávamos. Os nossos olhos encontraram-se de novo. Irreflectidamente, pedi a Lady Brandon que me apresentasse a ele. Talvez, afinal de contas, não fosse irreflexão. Foi simplesmente o inevitável. Teríamos falado um com o outro, mesmo sem apresentação. Tenho a certeza disso. Disse-mo Dorian depois. Também ele sentiu que nós estávamos destinados a nos conhecermos.
- E como descreveu Lady Brandon esse jovem maravilhoso? - perguntou Lord Henry. - Recordo-me de que ela tem por costume dar uma súmula dos requisitos dos seus hóspedes. Trata-os como um leiloeiro às coisas que põe em praça: ou desce às mais minuciosas explicações ou diz tudo menos aquilo que a gente quer saber.