Dorian Gray olhou para ela e empalideceu. Estava intrigado e ansioso. Nenhum dos seus amigos ousava falar-lhe. Achavam-na absolutamente incompetente. Fora uma horrível decepção.
Todavia, sabiam que a verdadeira pedra de toque de qualquer Julieta é, no segundo acto, a cena da varanda. Esperaram. Se ela aí falhasse, é porque nenhum mérito possuía.
Quando apareceu ao luar, era verdadeiramente adorável. Ninguém o podia negar. A sua maneira de representar, porém, era insuportável, e, à medida que ia avançando, ia sendo cada vez pior. Os gestos tornavam-se absurdamente artificiais. Dava uma ênfase exagerada a tudo o que dizia. A bela passagem:
Se a máscara da noite não cobrisse
O meu rosto, verias como as faces
Me ardem com o rubor do que eu te disse...
foi declamada com a lastimosa precisão duma colegial que aprendeu a recitar com algum professor de segunda ordem. Quando se debruçou sobre a varanda e chegou àqueles maravilhosos versos:
Dá-me prazer, é certo, o estar contigo.
É este encontro, porém, tão de repente
E tão precipitado, que eu te digo
Nenhum prazer me dá.
É um relâmpago
Que fende os ares, rasga a escuridão
E num segundo morre, bruscamente,
Sem dar tempo a dizer-se: «Relampeja!»
Boa noite, querido! Este botão
Será, quando nos virmos novamente,
Uma soberba flor, que do verão
O bafo acalentou...
proferiu as palavras como se nenhum sentido nelas lobrigasse.