- Não estás a falar sério, Dorian? - murmurou. Estás a representar.
- A representar! Deixo isso para ti. Faze-lo tão bem... - respondeu ele com amargor.
Ela ergueu-se, e, com uma confrangedora expressão de dor no rosto, atravessou a saleta e achegou-se a ele. Pousou-lhe a mão no braço e fitou-o nos olhos. Ele repeliu-a.
- Não me toques! - exclamou.
A rapariga soltou um débil gemido e atirou-se aos pés do seu amado, quedando-se aí inerte como uma flor espezinhada.
- Dorian, Dorian, não me deixes! Sinto tanto não ter representado bem. Estive constantemente a pensar em ti. Mas hei-de esforçar-me deveras, hei-de esforçar-me. Nasceu tão de repente em mim este meu amor por ti. Creio que nunca o teria conhecido, se tu me não tivesses beijado, se nós nos não tivéssemos beijado. Beija-me outra vez, meu amor. Não me deixes. Não poderia suportar o teu abandono. Oh! Não me deixes! O meu irmão... Não; deixá-lo. Ele não queria dizer isso. Era a brincar... Mas tu, oh! não me podes perdoar por hoje? Trabalharei tanto, farei tudo quanto puder para progredir. Não sejas cruel para comigo, porque te amo mais que a tudo no mundo. Afinal, foi só uma vez que não te agradei. Mas tens razão, Dorian. Devia ter-me mostrado mais artista. Foi uma tolice minha; e, contudo, não pude evitá-lo. Oh, não me abandones; não me abandones!