O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 147 / 335

Não sabia que fazer nem que pensar. Finalmente, sentou-se à mesa e escreveu uma carta apaixonada à rapariga que amara, implorando o seu perdão e acusando-se de loucura. Encheu páginas e páginas de palavras desesperadas de mágoa e, mais desesperadas ainda, de sofrimento. Sentimos um certo gozo em nos censurarmos a nós próprios. Quando exprobamos os nossos próprios actos, sentimos que só nós temos o direito de o fazer. É a confissão, não é o padre, que nos absolve. Ao concluir a carta, Dorian Gray sentia-se perdoado.

De repente ouviu uma pancada na porta.

- Meu caro - dizia, da parte de fora, Lord Henry -, preciso de lhe falar. Deixe-me entrar já. Não posso suportar que se feche assim.

Dorian não respondeu. As pancadas redobravam de intensidade. Sim, era melhor deixar entrar Lord Henry e explicar-lhe a vida nova que ia levar, altercar com ele, se tanto fosse necessário, romper com ele, se fosse inevitável romper. Levantou-se dum salto, tapou rapidamente o retrato com o biombo e abriu a porta.

- Sinto tanto, Dorian - disse Lord Henry, ao entrar.

- Mas você não deve pensar muito nisso.

- Quer referir-se a Sibyl Vane?

- Claro que sim - respondeu Lord Henry, sentando-se numa cadeira e descalçando lentamente as luvas amarelas. - É terrível, por um lado, mas você não teve culpa. Diga-me, falou com ela depois de findo o espectáculo?





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