- Sua mulher! Dorian... Não recebeu a minha carta?
Escrevi-a esta manhã, e mandei-lha pelo meu criado.
- A sua carta? Oh, sim, lembro-me. Ainda a não li, Henry. Tinha medo de que nela houvesse alguma coisa de que não gostasse... Você corta a vida em bocados com os seus epigramas...
- Então não sabe nada?
- Que quer dizer?
Lord Henry atravessou a sala, e, sentando-se ao pé de Dorian Gray, pegou-lhe nas mãos e prendeu-lhas fortemente.
- Dorian - disse - a minha carta, não se assuste, era para lhe comunicar que Sibyl Vane morreu.
Dorian Gray soltou um grito de dor, pôs-se dum pulo em pé, arrancando as mãos dentre as de Lord Henry.
- Morreu! A Sibyl morreu! Não é verdade! É uma mentira horrível! Como ousa dizer tal coisa?
- É absolutamente certo, Dorian - disse Lord Henry, gravemente. - Vem em todos os jornais da manhã. Escrevi-lhe para lhe pedir que não falasse com ninguém antes de eu chegar. Deve haver um inquérito, é claro, e você não deve ser nele envolvido. Essas coisas dão tom a um homem em Paris. Mas em Londres há tantos preconceitos... Aqui, nunca um homem deve iniciar a sua carreira com um escândalo. Deve reservar isso para tornar interessante a sua velhice. Creio que no teatro ignoram o seu nome. Se assim for, tudo está bem. Viram-no entrar no camarim? Isso é um ponto importante.