O pintor tapou a cara com as mãos.
- É terrível! - murmurou, ao mesmo tempo que um estremecimento lhe percorria o corpo todo.
- Não - retorquiu Dorian Gray -, não é nada terrível. É uma das grandes tragédias românticas da época. Em regra, a gente de teatro leva a mais banal das existências. Ou são bons maridos, ou esposas fiéis, ou qualquer coisa enfadonha. Sabe o que eu quero dizer - a virtude da classe média e toda essa coisa assim. Como a Sibyl era diferente! Viveu a sua mais bela tragédia. Foi sempre uma heroína. Na última noite em que trabalhou, a noite em que você a viu, representou mal, porque conhecera a realidade do amor. Quando reconheceu a sua irrealidade, morreu, como Julieta podia ter morrido. Fugiu de novo para a esfera da arte. Há nela o que quer que seja da mártir. A sua morte tem toda a patética inutilidade do martírio, toda a sua desperdiçada beleza. Mas, como estava dizendo, não deve pensar que eu não sofri. Se cá tivesse vindo ontem - aí pelas cinco e meia ou seis menos um quarto - ter-me-ia encontrado banhado em lágrimas. Até o Henry, que estava cá e que foi quem me trouxe a notícia, não fazia ideia nenhuma do que eu viria a fazer. Sofri imensamente. Depois passou. Não posso repetir uma emoção.