O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 174 / 335

Calou-se subitamente e atravessou-lhe os olhos um relâmpago. Recordou-se de Henry lhe haver dito um dia, meio a rir, meio a sério: «Se quiser passar um mau quarto de hora, obrigue o Basil a dizer-lhe por que é que não quer expor o seu retrato. Disse-mo um dia, e foi para mim uma revelação.» Sim, talvez Basil tivesse o seu segredo. Perguntar-lho-ia e esforçar-se-ia por o desvendar.

- Basil - disse, abeirando-se dele e fitando-o de frente -, cada um de nós tem o seu segredo. Diga-me o seu e eu lhe direi o meu. Por que motivo se recusava a expor o meu retrato?

O pintor estremeceu involuntariamente.

- Dorian, se lho dissesse, talvez viesse a estimar-me menos, e certamente até se riria de mim. Nem uma coisa nem outra eu poderia suportar. Se quiser que eu nunca mais veja o seu retrato, submeto-me. Posso sempre vê-lo a você. Se quiser que a melhor obra que eu jamais fiz fique para sempre ignorada do mundo, muito bem, aceito. A sua amizade, porém, é para mim mais preciosa que a fama ou a reputação.

- Não, Basil, tem de mo dizer - insistiu Dorian Gray. - Acho que tenho direito a sabê-lo.

Desvanecera-se-lhe a sensação de terror, deixando lugar à curiosidade. Estava resolvido a desvendar o mistério de Basil Hallward.





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