O Retrato de Dorian Gray - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 192 / 335

Os seus olhos deram com o livro amarelo que Lord Henry lhe enviara. Que era? Encaminhou-se para a mesinha octogonal, que sempre se lhe afigurara a obra de estranhas abelhas egípcias que trabalhassem em prata, e, pegando no volume, atirou-se para uma poltrona e pôs-se a folheá-lo. Passados uns minutos, a leitura absorvia-o completamente. Era o livro mais estranho que jamais lera. Parecia-lhe que os pecados do mundo desfilavam em silêncio diante dele, vestidos de trajes sumptuosos e acompanhados do som delicado de flautas. Apareciam-lhe subitamente como coisas reais que ele vagamente havia sonhado. Eram-lhe a pouco e pouco reveladas coisas que jamais sonhara.

Era uma novela sem enredo e com uma personagem apenas. Era simplesmente o estudo psicológico de certo jovem parisiense que passava a vida procurando realizar no século XIX todas as paixões e modalidades de pensamento que pertenciam a todos os outros séculos e compendiar, por assim dizer, em si as várias feições por que passara o espírito do mundo, amando pela sua mera artificialidade aquelas renúncias que os homens insensatamente denominaram virtude, tanto como aquelas rebeliões naturais a que os homens de senso ainda chamam pecado.





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