Suspirou, e, tendo deitado chá numa chávena, abriu a carta de Lord Henry. Era simplesmente a dizer que lhe enviava o jornal da tarde e um livro que talvez o interessasse, e que estaria no clube às oito e um quarto.
Abriu o The St. James's languidamente e percorreu-o com os olhos. Na quinta página deparou-se-lhe uma marca a lápis vermelho, a chamar-lhe a atenção para a notícia seguinte:
«INVESTIGAÇÃO SOBRE A MORTE DUMA ACTRIZ. - O Sr. Damy, comissário do bairro, procedeu esta manhã na Bell Tavern, Rua Hoxton, a uma investigação sobre a morte de Sibyl Vane, jovem actriz recentemente escriturada para o Teatro Real, de Holborn. Concluiu-se que a morte fora devida a um acidente. A mãe da falecida, que se mostrou profundamente comovida durante o seu depoimento e o do Sr. Birrel, que verificara o óbito, recebeu consideráveis manifestações de simpatia.»
Franziu a testa, e, rasgando em dois o jornal, atravessou o quarto e atirou fora todos os bocados. Que abominável era tudo aquilo! Sentiu-se um tanto enfadado com Lord Henry por lhe haver mandado a notícia. E foi certamente estupidez tê-la marcado a lápis vermelho. Victor podia tê-la lido. Sabia inglês mais que o preciso para isso.
Talvez a houvesse lido e houvesse começado a suspeitar de alguma coisa. E, todavia, que importava? Que tinha Dorian Gray que ver com a morte de Sibyl Vane? Não havia que temer. Dorian Gray não a tinha matado.