O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 204 / 335

O sacrifício quotidiano, mais terrível, com efeito, do que todos os sacrifícios do mundo antigo, emocionava-o profundamente, tanto pela sua soberba repulsão da evidência dos sentidos, como pela primitiva simplicidade dos seus elementos e pelo eterno palhas da tragédia humana que procurava simbolizar. Gostava de se ajoelhar no frio lajedo de mármore e de ver o sacerdote, nas suas vestes floridas, lentamente e com as mãos alvas, afastar o véu do tabernáculo ou erguer a custódia resplandecente de jóias com aquela pálida hóstia que, às vezes, se julgaria ser, na verdade, o panis coelestis, o pão dos anjos, ou, revestido dos paramentos da Paixão de Cristo, partir a hóstia no cálice e bater no peito pelos seus pecados. Os fumegantes turíbulos, que os graves meninos, de rendas e vestes encarnadas, baloiçavam no ar como enormes flores doiradas, tinham para ele a sua subtil fascinação. Ao retirar-se, olhava admirado para os negros confessionários, e sentia um ardente desejo de se sentar na penumbra dum deles e escutar os homens e as mulheres murmurarem através da grade já puída a verdadeira história das suas vidas.




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