E, assim, dedicava-se agora a estudar os perfumes e os segredos do seu fabrico, destilando óleos capitosos e queimando gomas odoríferas oriundas do Oriente. Via que não havia manifestação do espírito que não tivesse a sua contrapartida na vida sensual, e aplicou-se a descobrir as suas verdadeiras relações, querendo saber o que é que havia no incenso para gerar o misticismo, no âmbar cinzento para excitar as paixões, nas violetas para despertar a recordação dos romances mortos, no almíscar para perturbar o cérebro e no champak para perverter a imaginação, e procurando muitas vezes elaborar uma verdadeira influência das raízes odoríferas, das flores de pólen perfumado, dos bálsamos aromáticos e das madeiras negras e fragrantes, do nardo, que faz uma pessoa doente, da hovénia, que enlouquece os homens, e do aloés, que se diz poder purgar a alma da melancolia...
Outras vezes dedicava-se inteiramente à música, e, numa comprida sala de tecto escarlate e oiro e paredes de laca cor de azeitona, dava curiosos concertos, em que loucas ciganas arrancavam músicas desvairadas de pequena citara, ou graves tunisinas envoltas em xales amarelos desferiam as cordas retesadas de monstruosos alaúdes, enquanto negros casquinantes rufavam monotonamente tambores de cobre, e, acocorados em esteiras rubras, indianos de finos turbantes sopravam compridas flautas de cana ou de bronze e encantavam, ou fingiam encantar, grandes cobras e horríveis víboras.