O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 213 / 335

Nenhum Inverno lhe maculara o rosto ou crestara a floração radiosa da sua mocidade. Como era diferente o que sucedia com as coisas materiais! Que destino tiveram? Onde estava o grande manto de açafrão feito pelas mãos de raparigas morenas para gozo de Atena e pelo qual os deuses pelejaram contra os gigantes? Que era feito do enorme velário que Nero estendera sobre o Coliseu, esse gigantesco toldo púrpura em que rutilava o céu estrelado e Apoio conduzia um carro puxado por corcéis de rédeas douradas? Tinha uma ânsia veemente de ver as curiosas toalhas executadas para o sacerdote do Sol, em que se ostentavam todos os primores e todas as iguarias inerentes a um festim; o pano mortuário do rei Chilperico, com as suas trezentas abelhas de oiro; os fantásticos mantos que excitavam a indignação do bispo de Pontus, em que figuravam «leões, panteras, ursos, cães, florestas, rochas, caçadores - tudo, em suma, o que um pintor pode reproduzir da natureza»; e o casaco usado por Carlos d'Orléans, em cujas mangas estavam bordados os versos duma canção que começava assim: «Madame, je suis tout joyeux», tendo o acompanhamento musical tecido a fio de oiro, e cada nota (quadrada, segundo o uso da época) formada por quatro pérolas.




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