O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 215 / 335

E assim, durante um ano inteiro, procurara acumular os mais peregrinos exemplares que pôde encontrar de tapeçarias e bordados: delicadas musselinas de Delhi, finamente entretecidas de palmas de fio de oiro e salpicadas de asas irisadas de escaravelhos; gazes de Dacca, a que, pela sua transparência, chamam, no Oriente, «ar tecido», «água corrente» e «orvalho da tarde»; panos de lava, recobertos de estranhas figuras; complicados reposteiros amarelos, oriundos da China; livros encadernados em cetim castanho ou seda azul e com flores-de-lis, aves e imagens gravadas nas capas; véus de lacis a ponto húngaro; brocados da Sicília e veludos espanhóis; bordados da Geórgia de cantos dourados e foukousas japonesas de oiro de tons verdes e aves de maravilhosas plumagens.

Dedicou-se também com paixão especial aos paramentos eclesiásticos, como, afinal, se dedicava a tudo o que se relacionava com o serviço da Igreja. Nas grandes arcas de cedro que ladeavam a galeria ocidental da sua casa arrecadava muitos espécimes raros e belos do que na realidade constitui as vestes da Noiva de Cristo, que tem de usar púrpura, jóias e finas roupas de linho a fim de ocultar o pálido corpo macerado, consumido pelo sofrimento que ela própria procura e ferido pela dor que ela a si própria inflige. Possuía um sumptuoso pluvial de seda carmesim e damasco de fio de oiro, recamado de romãs de oiro com flores de seis pétalas e pinhas incrustadas de pérolas e magníficos bordados representando cenas da vida da Virgem. Era trabalho italiano do século XV.





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