No grande fogão ardia um claro lume. Os candeeiros estavam acesos, e sobre uma mesinha marchetada via-se uma licoreira holandesa, de prata, com sifões de soda e grandes copos de cristal.
- Vê que o seu criado pôs-me inteiramente à vontade.
Deu-me tudo o que eu quis, incluindo os seus melhores cigarras de ponta de oiro. É muito amável. Gosto muito mais dele que do francês que você tinha. A propósito, que é feito do francês?
Dorian encolheu os ombros.
- Creio que casou com a criada de Lady Radley e estabeleceu-a em Paris como modista inglesa. Dizem que está lá muito em moda a anglomania. Parece-me uma idiotice dos Franceses, não é verdade? Mas... sabe?.. não era mau criado. Eu nunca gostei dele, mas não tenho razão de queixa. A gente muitas vezes imagina coisas que são inteiramente absurdas. Era-me realmente dedicadíssimo e parecia muito penalizado quando se foi embora. Mais soda com aguardente? Ou prefere Rena com água de Seltz? Eu tomo sempre Rena com água de Seltz. Deve haver no quarto contíguo.
- Obrigado, não quero mais nada - respondeu o pintor, tirando o boné e o sobretudo e atirando-os para cima da mala, que pousara a um canto. - E agora, meu caro, preciso de lhe falar muito a sério. Não carregue assim as sobrancelhas. Desse modo torna-se muito mais difícil dizer-lhe o que tenho a dizer.