Aí parou, ouvindo os passos lentos e pesados do polícia no passeio e vendo o clarão da lanterna reflectido na janela. Esperou e reteve a respiração.
Passados uns minutos saiu, fechando a porta muito de mansinho. Então pôs-se a tocar a campainha. Ao cabo de cinco minutos, aparecia o criado, meio vestido e estremunhado.
- Sinto muito tê-lo acordado, Francis - disse, entrando - mas tinha-me esquecido da chave. Que horas são?
- Duas e dez, Sr. Gray - respondeu o homem, olhando para o relógio do vestíbulo com os olhos piscos. - Duas e dez? É horrivelmente tarde! Há-de-me acordar às nove horas. Tenho que fazer.
- Perfeitamente, Sr. Gray.
- Veio cá alguém?
- Veio cá o Sr. Hallward. Esperou até às onze e depois foi-se embora para apanhar o comboio.
- Oh! Que pena tenho de não o ver! Deixou algum recado?
- Não, senhor. Apenas disse que de Paris escreveria a V. Exs, se o não encontrasse no clube.
- Está bem, Francis. Não se esqueça de me chamar às nove horas.
O criado retirou-se, arrastando os chinelos pelo corredor fora.
Dorian Gray atirou o chapéu e o casaco para cima da mesa e foi para a biblioteca. Andou durante um quarto de hora passeando para cá e para lá, mordendo os lábios e pensando. Depois tirou o Livro Azul duma das prateleiras e pôs-se a folheá-lo. - Alan Campbell, 152, Rua Hetford, Mayfair.
Sim, era esse o homem de que precisava.