Depois de fechar a porta à chave, desceu cautelosamente as escadas. A madeira estalava e parecia gritar como que de dor. Parou várias vezes e esperou. Não, tudo estava em silêncio. O que ouvira era apenas o ruído dos seus passos.
Quando chegou à biblioteca, viu no canto a mala e o sobretudo. Urgia escondê-los algures. Abriu um desvão secreto, dissimulado no forro da parede, em que guardava os seus curiosos disfarces, e meteu-os lá. Podia facilmente queimá-los depois. Puxou do relógio. Faltavam vinte minutos para as duas horas.
Sentou-se e começou a pensar. Todos os anos - quase todos os meses - enforcavam-se homens em Inglaterra pelo que ele acabava de fazer. Pairava no ar uma insânia de homicídio. Alguma rubra estrela que se aproximara demais da terra. E, contudo, que provas havia contra ele? Basil Hallward saíra às onze horas. Ninguém o vira tornar a entrar. A maior parte dos criados estavam em Selby Royal. O seu criado de quarto fora-se deitar... Paris! Sim. Basil partira para Paris, no comboio da meia-noite, como tencionava. Com os seus curiosos hábitos recatados, passar-se-iam meses sem que se originasse qualquer suspeita. Meses! Tinha então tempo de sobra para tudo destruir...
Ocorreu-lhe uma súbita ideia. Vestiu o casaco de peles, pôs o chapéu e saiu para o vestíbulo.