- Endoideceu, repito! Está doido, se imagina que eu levantaria um dedo para o ajudar; é preciso que esteja doido para me fazer essa monstruosa confissão. Não tenho nada que ver com isso, seja lá o que for. Julga que vou arriscar por sua causa a minha reputação? Que me importam as suas maquinações diabólicas?
- Foi um suicídio, Alan.
- Estimo muito. Mas quem o impeliu a isso? Você, é claro!
- Persiste em recusar-me o que lhe peço?
- Sem dúvida. Recuso-me terminantemente a meter-me nisso: Que me importa a vergonha que daí resulte para você? Tudo merece. Não me penaliza vê-lo publicamente coberto de opróbrio. Como ousa escolher-me dentre todos os homens do mundo para me pedir que colabore nesse horror? Pensava que conhecesse melhor o carácter das pessoas. O seu amigo Lord Henry Wotton, além do muito que lhe ensinou, podia ter-lhe dado lições de psicologia...
Nada me decidirá a dar um passo em seu socorro. Enganou-se na porta... Vá ter com os seus amigos. Não se dirija a mim.
- Alan, foi um crime. Fui eu que o matei. Não sabe o que ele me fez sofrer. Seja a minha vida o que for, ele exerceu nela mais influência, para bem ou para mal, do que o pobre Henry. Talvez sem intenção, mas o resultado foi o mesmo.
- Crime! Meu Deus, foi a isso, Dorian, que você chegou? Não o vou denunciar. Não me cumpre fazê-lo. Além disso, sem eu intervir no caso, você será, indubitavelmente, preso. Nunca ninguém comete um crime sem fazer alguma coisa estúpida. Mas não me quero meter nisso.