Ouvia-se o zumbir duma mosca que volitava pelo quarto e o tiquetaque do relógio retumbava como marteladas.
Quando bateu uma hora, Campbell voltou-se, e, olhando para Dorian Gray, viu-lhe os olhos rasos de lágrimas. Havia na pureza e na requintada finura daquele rosto triste alguma coisa que o enfureceu.
- Você é infame, absolutamente infame! - murmurou.
- Cale-se, Alan! Salvou-me a vida.
- A sua vida? Deus do céu! que vida! Você desceu de degradação em degradação até chegar ao crime. Fazendo o que vou fazer, o que me obriga a fazer, não é na sua vida que eu penso.
- Ah, Alan - murmurou Dorian, com um suspiro -, desejava que tivesse por mim a milésima parte do dó que eu tenho por si.
Ditas estas palavras, afastou-se e pôs-se a olhar para o jardim. Campbell não respondeu.
Passados uns dez minutos bateram à porta, e entrou o criado com uma grande caixa de mogno cheia de drogas, um grande rolo de fio de platina e aço e dois grampos de ferro de feitio um tanto curioso.
- Quer que deixe isto aqui? - perguntou a Campbell.
- Sim, deixe - respondeu Dorian. - E talvez tenha, Francis, de me fazer outro recado. Como se chama o homem de Richmond que fornece orquídeas para Selby?
- Chama-se Harden.
- Sim, Harden. Vá já a Richmond, fale com Harden e diga-lhe que mande o dobro das orquídeas que eu tinha encomendado e que das brancas mande o menos possível.