O Retrato de Dorian Gray - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 287 / 335

- É o dinheiro do diabo! - cascalhou ela, numa voz roufenha.

- Maldita! - respondeu. - Não me chames isso!

Ela fez estalar os dedos e vociferou-lhe nas costas:

- Queres que te chame Príncipe Encantador, não é verdade?

O marinheiro amodorrado, ao ouvir este nome, pôs-se dum pulo em pé e olhou desvairadamente em roda. Ouviu a porta bater. Precipitou-se por ela fora, como se fora em perseguição de alguém.

Dorian Gray seguia apressadamente pelo cais, debaixo duma chuva miudinha. Comovera-o estranhamente o encontro com Adrian Singleton, e a si mesmo perguntava se era ele na realidade o culpado da perdição daquele jovem, como, num insulto infame, lho dissera Basil Hallward. Mordeu o lábio, e os olhos anuviaram-se-lhe por uns segundos. Contudo, afinal, que lhe importava isso? A vida dum homem era demasiado curta para carregar com os erros dos outros. Cada um vivia a sua própria vida, e para a viver pagava a parte que lhe cabia. O que era pena é que se' tivesse tantas vezes de pagar por uma simples falta... Tinha, efectivamente, de se pagar muitas e muitas vezes. Nas suas relações com o homem, o Destino nunca fechava as suas contas...

Momentos há, dizem os psicólogos, em que a paixão pelo pecado, ou por aquilo a que o mundo chama pecado, a tal ponto domina uma natureza, que cada fibra do seu corpo, bem como cada célula do cérebro, parece ser impregnada de impulsos terríveis.





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