O Retrato de Dorian Gray - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 288 / 335

Nesses momentos, homens e mulheres perdem a liberdade do seu querer. Caminham como autómatos para o seu terrível fim. Não têm a faculdade da escolha, e a consciência, ou é morta ou, se porventura vive, vive apenas para dar à revolta a sua fascinação e à desobediência o seu encanto. Pois todos os pecados, como os teólogos se não cansam de no-lo recordar, são pecados de desobediência. Quando aquele alto espírito, aquela estrela matutina do mal, caiu do céu, foi como rebelde que caiu...

Endurecido, concentrado no mal, com o espírito manchado e a alma faminta de rebelião, Dorian Gray acelerava cada vez mais o passo. Ao meter, porém, por uma lôbrega arcada, por onde muita vez, para encurtar caminho, atravessara para ir ao antro para onde agora se dirigia, sentiu-se bruscamente agarrado por trás, e, antes de ter tempo de se defender, uma mão brutal fincou-se-lhe na garganta e atirou-o contra a parede.

Lutou desesperadamente para se desenvencilhar, e, por um terrível esforço, conseguiu descravar os dedos que ameaçavam estrangulá-lo. Num segundo ouviu o estalido dum revólver, e viu um cano polido luzir-lhe junto à cabeça e, na penumbra, o vulto dum homem baixo e espadaúdo.





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