E eu apanhei o efeito que queria: os lábios entreabertos e o fulgor dos olhos. Não sei o que lhe esteve o Henry a dizer, mas você ouvia-o com a mais admirável das expressões. Esteve talvez a dizer-lhe amabilidades. Não acredite numa só palavra do que ele lhe disse.
- Não, não esteve a dirigir-me amabilidades. É talvez por essa razão que eu em nada acredito do que ele me disse.
- Bem sabe que acredita em tudo - observou Lord Henry, fitando nele os seus olhos sonhadores e lânguidos. - Vou também para o jardim. Aqui dentro está um calor horrível. Basil, mande-nos servir refrescos gelados e morangos.
- Pois não, Henry! Toque a campainha, e, quando vier o Parker, eu lhe direi o que quer. Vou acabar este fundo e depois irei ter com vocês. Não demore muito o Dorian Gray. Nunca senti melhor disposição para pintar do que hoje. Isto vai ser a minha obra-prima. É, sem dúvida, já a minha obra-prima.
Lord Henry saiu para o jardim e encontrou Dorian Gray a mergulhar o rosto nos grandes e frescos lilases, bebendo febrilmente o seu perfume como se fora vinho. Abeirou-se dele e pousou-lhe a mão no ombro.
-Faz muito bem -murmurou. - Só os sentidos podem curar a alma, assim como só a alma pode curar os sentidos.