O Retrato de Dorian Gray - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 32 / 335

O jovem estremeceu e recuou. Estava de cabeça descoberta, e as folhas haviam-lhe desfeito os anéis do cabelo, emaranhando-lhes os fios de oiro. Luzia-lhe nos olhos aquela expressão de pasmo que costumam ter as pessoas bruscamente despertadas. Tremiam-lhe as narinas finamente cinzeladas e algum nervo oculto agitava-lhe os lábios escarlates e deixava-os frementes.

- Sim - prosseguiu Lord Henry -, é um dos grandes segredos da vida, curar a alma por meio dos sentidos e os sentidos por meio da alma. O senhor é uma criação admirável. Sabe mais do que julga saber e sabe menos do que quer saber.

Dorian Gray franziu a testa e voltou a cabeça. Não podia deixar de gostar do alto e gracioso jovem que se achava junto de si. Interessava-o o rosto romântico, cor de azeitona, duma expressão gasta. Havia o que quer que fosse na sua voz grave e lânguida, que encantava e prendia. Até as suas mãos frias e brancas, como pétalas, tinham um curioso encanto. Moviam-se, quando ele falava, como música, e pareciam ter uma linguagem própria. Mas tinha medo dele, e envergonhava-se de ter medo. Porque havia de estar reservado a um estranho revelá-lo a ele próprio? Havia meses que conhecia Basil Hallward, mas a amizade que entre eles se estabelecera nunca o alterara.





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